terça-feira, 10 de maio de 2016

Cada dia mais. E o que o mais tem feito por você?

A cada dia, é preciso sermos mais fortes. Mais poderosos.
É esperado que sejamos mais competentes. Mais eficazes, maravilhosos, destemidos, incríveis seres humanos com habilidades extra-sensoriais.
A cada dia, é exigido mais potência de nossos motores. Somos puxados a arar quilômetros de terras e distâncias sem fim.
Fraquejar? Que nada, estamos prontos, sempre. O desafio é como o ferro que corre em nossas correntes sanguíneas. Não poderia estar mais entranhado em nossa constituição.
Esperam que sejamos onipotentes, que nossos sentidos sejam ampliados e que nossas respostas sejam completas e resolutivas para todo e qualquer problema. Que sejamos solucionadores de enigmas de toda espécie.
Forçam-nos a sermos os melhores. Os melhores pais, filhos, maridos, mulheres, empresários, cidadãos. Exemplos! Lindos, bem-sucedidos, saudáveis, esportistas, inteligentes, viajados, poliglotas, acumuladores de bens, tão felizes que seria impossível duvidar que nossas vidas não poderiam facilmente ser retratadas na revista Caras. Bem, certamente, nas mídias sociais, somos todos, vencedores.
A cada dia, mais nos enfronhamos na tecnologia, nos diversos e simultâneos canais de comunicação e de projeção social possíveis, mais em nossos egos inesgotáveis e carentes de atenção.
Nos afundamos em dívidas, tanto financeiras quanto emocionais, para conosco e com os outros.
A cada dia, projetamos mais e sentimos menos. As aparências e as habilidades estão super valorizadas, estigmatizadas. Alguém te pergunta, o que você sente? Garanto que não. As pessoas te perguntam, provavelmente, qual é o seu cargo e profissão. "O que você faz?" O que você faz não é o que você é. Você tem uma profissão, um trabalho, mas isso não te define. Você define o que faz.
Cada vez mais, somos convidados a ser artificiais. A lutar com unhas e dentes por aparências e estigmas sociais.
Em contrapartida, não há reconhecimento àquele que vive sua vida anonimamente, sem acontecimentos significativos. Àquele que não fala de seus grandes feitos; apenas vive de maneira pacífica, simples e sem artifícios. Seu rosto pode nem existir nas redes sociais. 
Ele pode ser um herói do dia-a-dia, simplesmente por sobreviver, por ganhar o pão de cada dia, sustentar a família, talvez, até, combater uma doença. Não tem MBA, carro do ano, nem o corpo dos deuses. Mas tem conhecimento sobre si mesmo. Sabedoria para lidar com as agruras que encara, paciência para aturar as desventuras.
A cada dia mais, o menos deve ser respeitado. Cultivado. Menos aparências e superficialidades. Menos desejo de agradar a todos. Menos sucesso material para ostentar, menos pressão para ser o melhor, menos egocentrismo.
A cada dia, um pouco menos para vivenciar o mais de cada um, de cada sentimento, de cada conquista. Várias partes de menos farão um "mais feliz" de verdade, e não apenas, uma caricatura da felicidade oca. 
Sejamos menos super-humanos para sermos, apenas, humanos em crescimento.
O que há de mal nisso? Nada, apenas... menos.

Leia até o final, não é balela de autoajuda. É autopreservação

Você merece mais uma chance. Você precisa de mais de um amigo de verdade. Você não precisa de mais aborrecimentos do que já tem. Você...