segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Esses dias ensolarados

Esses dias ensolarados me trazem doces lembranças de infância.
Fazem-me lembrar dos meus dias no pesqueiro que tínhamos, do cheiro do mato e do barulho do rio no fundo. Esses dias ensolarados eram a moldura daquela época.
Lembro-me do silêncio inigualável daquele lugar, do vento calmo atravessando a propriedade, dos pés de bananeira, de laranja e de goiaba.
Lembro da rede que colocávamos entre árvores no meio da sombra que elas proporcionavam. A vida era fácil e fluída, e o sol permeava entre as folhas, tão jovem, inocente e cálido, assim como eu.
Eu me lembro de meu pai calçando sandálias de couro e usando chapéu de palha, sempre trabalhando em algo, inventando alguma coisa, naquele lugar que ele amava, dois terrenos em um, uma casa enorme, bem arejada. Tínhamos cachorros que eram tesouros que pertenciam àquele lugar. Eles comemoravam nossa chegada; eram filhos de todos que ali permaneciam, moradores ou visitantes. Dotados de amor incondicional... No pesqueiro, naqueles dias ensolarados... nosso pequeno mundo.
Lembro das tranças que usava. Das esperanças de coração de criança: ir bem na escola, conseguir agradar à minha mãe, ser mimada pelas minhas irmãs. Quem sabe um dia ser aeromoça, ou melhor ainda: escritora. Sonhos de viajar o mundo, fosse no ar, ou fosse no papel.
Lembro da minha mãe a andar e arrumar a casa, e do cheiro do café que lá era ainda mais gostoso. Minha mãe, que era muito mais feliz naqueles dias ensolarados no pesqueiro.
Lembro do sorriso pacífico do meu pai, e de sua seriedade. Lembro-me de montarmos quebra-cabeças complexos juntos, sem dizer nada. Apenas juntos. Somente pai e filha.
Esses dias me trazem lembranças de brincadeiras de crianças.
Das vizinhas com quem brincava, com quem dividia os dias ensolarados. De andar sob as árvores e sobre a terra, de andar de bicicleta, como se estivesse dominando o mundo. De admirar o pequeno paraíso que eram aqueles dias... De sentir que a vida ainda viria. Ainda começaria. Que ali, era somente um ensaio, apenas um sopro da grande aventura que se desenrolaria depois.
Esses dias ensolarados... quem dera patenteá-los e vendê-los em cápsulas, oferecendo a todos um pouco do sentimento simples da infância: tranquilidade, risos e brincadeiras, sossego da alma, despreocupação. Cápsulas do tempo que todos já desfrutamos, mas que parecem perdidos para sempre, em uma longínqua memória de outrora, dando a sensação de que nunca vivenciamos, ou que foi tudo imaginação.
Mas não foi, os dias ensolarados aconteceram para mim. Para você. Para nós. Para todos.   
Então, vamos rir como crianças de novo? Ir para um lugar onde o vento te faz carinho exatamente como já fez um dia? Talvez andar de bicicleta acreditando sinceramente que irá ganhar o mundo, agora, pela primeira vez? Ou andar descalço (a) na terra?
Os pais, se ainda os têm, aproveite para criar novos momentos. Para aqueles que não têm, guarde no coração as cápsulas dos seus dias ensolarados e deixe-se "ensolarar", muitas vezes, com elas.
O que realmente faz falta, nos dias ensolarados de hoje, são as esperanças e doçuras de dias passados, com a proporção que deveriam ter, hoje: a da maturidade de cada um,  porém, com a presença sagrada da infância e a ingenuidade de acreditar, pura e simplesmente, permitindo que a vida brilhe, em toda a sua plenitude, o sol maravilhoso que existe em nós.
Bons dias ensolarados e plenos para você!

Leia até o final, não é balela de autoajuda. É autopreservação

Você merece mais uma chance. Você precisa de mais de um amigo de verdade. Você não precisa de mais aborrecimentos do que já tem. Você...