Esses dias ensolarados me trazem doces lembranças de
infância.
Fazem-me lembrar dos meus dias no pesqueiro que tínhamos, do
cheiro do mato e do barulho do rio no fundo. Esses dias ensolarados eram a
moldura daquela época.
Lembro-me do silêncio inigualável daquele lugar, do vento
calmo atravessando a propriedade, dos pés de bananeira, de laranja e de goiaba.
Lembro da rede que colocávamos entre árvores no meio da
sombra que elas proporcionavam. A vida era fácil e fluída, e o sol permeava
entre as folhas, tão jovem, inocente e cálido, assim como eu.
Eu me lembro de meu pai calçando sandálias de couro e usando
chapéu de palha, sempre trabalhando em algo, inventando alguma coisa, naquele
lugar que ele amava, dois terrenos em um, uma casa enorme, bem arejada.
Tínhamos cachorros que eram tesouros que pertenciam àquele lugar. Eles
comemoravam nossa chegada; eram filhos de todos que ali permaneciam, moradores
ou visitantes. Dotados de amor incondicional... No pesqueiro, naqueles dias
ensolarados... nosso pequeno mundo.
Lembro das tranças que usava. Das esperanças de coração de
criança: ir bem na escola, conseguir agradar à minha mãe, ser mimada pelas
minhas irmãs. Quem sabe um dia ser aeromoça, ou melhor ainda: escritora. Sonhos
de viajar o mundo, fosse no ar, ou fosse no papel.
Lembro da minha mãe a andar e arrumar a casa, e do cheiro do
café que lá era ainda mais gostoso. Minha mãe, que era muito mais feliz
naqueles dias ensolarados no pesqueiro.
Lembro do sorriso pacífico do meu pai, e de sua seriedade.
Lembro-me de montarmos quebra-cabeças complexos juntos, sem dizer nada. Apenas juntos.
Somente pai e filha.
Esses dias me trazem lembranças de brincadeiras de crianças.
Das vizinhas com quem brincava, com quem dividia os dias
ensolarados. De andar sob as árvores e sobre a terra, de andar de bicicleta,
como se estivesse dominando o mundo. De admirar o pequeno paraíso que eram
aqueles dias... De sentir que a vida ainda viria. Ainda começaria. Que ali, era
somente um ensaio, apenas um sopro da grande aventura que se desenrolaria depois.
Esses dias ensolarados... quem dera patenteá-los e vendê-los
em cápsulas, oferecendo a todos um pouco do sentimento simples da infância:
tranquilidade, risos e brincadeiras, sossego da alma, despreocupação. Cápsulas
do tempo que todos já desfrutamos, mas que parecem perdidos para sempre, em uma
longínqua memória de outrora, dando a sensação de que nunca vivenciamos, ou que
foi tudo imaginação.
Mas não foi, os dias ensolarados aconteceram para mim. Para
você. Para nós. Para todos.
Então, vamos rir como crianças de novo? Ir para um lugar
onde o vento te faz carinho exatamente como já fez um dia? Talvez andar de
bicicleta acreditando sinceramente que irá ganhar o mundo, agora, pela primeira
vez? Ou andar descalço (a) na terra?
Os pais, se ainda os têm, aproveite para criar novos
momentos. Para aqueles que não têm, guarde no coração as cápsulas dos seus dias
ensolarados e deixe-se "ensolarar", muitas vezes, com elas.
O que realmente faz falta, nos dias ensolarados de hoje, são
as esperanças e doçuras de dias passados, com a proporção que deveriam ter,
hoje: a da maturidade de cada um, porém,
com a presença sagrada da infância e a ingenuidade de acreditar, pura e
simplesmente, permitindo que a vida brilhe, em toda a sua plenitude, o sol maravilhoso
que existe em nós.
Bons dias ensolarados e plenos para você!
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