Ter 40 anos é um pouco assustador. Não como uma montanha-russa; mais parecido com pular de paraquedas. Explico a seguir.
Os 40 te dão coragem para fazer
coisas que nunca fez antes, mas também dão um medo de outras, praticamente
inimagináveis. Seus gostos se aprofundam, se intensificam, e seus temores se
engrandecem. Por isso, te digo: quando você realmente tem vontade de algo por
inteiro, aproveita, porque talvez a vontade dos 40 seja mais esfomeada, embora
seja um pouco mais reservada que as anteriores.
Ter 40 anos não significa já
ter atingido o pico reluzente da montanha, ou desvendado o grande mistério da
vida. Nem quer dizer que já estabilizou-se financeira e emocionalmente. Tampouco,
que já sabe tudo – que tamanha empáfia e arrogância acreditar nisso!
Caramba, você pode estar com
um nó impressionante de assuntos para resolver, mesmo à essa altura da estrada.
Aí, pensa: ou vai, ou racha. Já não tenho mais 20 anos, com tempo de sobra para
cometer erros, nem 30, imbuído de toda aquela certeza e presunção do “posso tudo
que quiser.”
Não. Não dá para relaxar aos
40, e tampouco para imaginar a vida pacata e mais estabilizada, segura e sem
tropeços financeiros (ou amorosos). Acabou a ilusão, sem choro nem vela. Encare
a realidade: você vai ter que se reinventar e se desdobrar, mesmo que os 40
sejam 2 x 20. Pois é! Ainda não dá pra relaxar, porque isso, meu caro, faremos
quando morrermos. É hora de arregaçar as mangas. Que estão mais longas devido à
idade avançada (não resisti, brincadeira, rsrs).
Enfim, “nessa idade”, as
crises de consciência ainda acontecem, só que mais pesadas. Mais experientes!
Ainda duvidamos sobre qual seja a definição mais apropriada de nós mesmos,
ainda não temos certeza se a nossa comida preferida é massa ou japonesa, se
queremos casa ou apartamento, se estamos felizes ou apenas acomodados, etc. Quem
disse que as dúvidas e crises existenciais são privilégios dos adolescentes?
Não sabemos, sobretudo, se sabemos bem o que estamos fazendo. É um paradoxo,
não?
Então, que caia a máscara dos
40!
Podemos afirmar que, ao
badalar dos 40, já acumulamos sorrisos para mil lembranças, lágrimas para rios
intermináveis e experiências mais que válidas para algumas boas vidas. Assistimos
a um desfile de pessoas incríveis ou decepcionantes, que perfilaram nossos dias
(ainda bem que algumas não continuaram na passarela por onde as demais
passaram; resolveram parar para assistir ao desfile, ao nosso lado). Já caímos
e levantamos, e sacudimos a poeira, vezes incontáveis. Já gastamos nossa
energia, esforço e dinheiro; perdemos a autoestima e a recuperamos; aprendemos
a valorizar e desvalorizar e já pisamos e fomos pisados o tanto que sapatos
podem aguentar. Já fomos adorados e esquecidos. Também já temos nossa cota de
esquecimentos, assim como de enaltecimentos. Temos coleção de tudo: décadas,
histórias e amigos (e inimigos?). O que mais desejamos acumular? De quê ou de
quem devemos nos divorciar, nesta época de nossas vidas?
Ah, os tais 40... Uma
coletânea de fitas em cassete, com um som pop-rock bem balanceado, de um jeito
dançante, junto com uns CDs que a gente ama, que tocam somente em micro systems, vulgo aparelhos de som,
eternamente, em nossos corações de vinil, onde “fazer amor de madrugada” era
bem mais interessante do que descobrir “que tiro foi esse”.
Resumindo, acredito acho que
temos muito o que fazer aos 40. Mais ainda do que antes, porque o antes já acabou
e o futuro, não se sabe, nunca se viu. É uma ideia que criamos sobre estarmos
felizes e realizados em vários aspectos, na “Ilha da Fantasia” da maturidade, nessa
ilusão que um dia tivemos, mas que, hoje, por questões práticas, políticas e
reais, deixou de existir.
Já ouviu falar da Ilha da
Fantasia? Que bom, estou falando com alguém da minha idade (outra à qual não
resisti, rsrsrs).
Boa viagem aos 40! Porém, se
já chegou lá, acomode-se e sente-se na janelinha, pois a jornada será
emocionante e totalmente sem garantias financeiras e sentimentais!
E, claro, com discos de vinil como trilha
sonora. Sem pendrives nem spotify.