Ir embora de algo ou alguém, é um dos atos de coragem mais difíceis de
se realizar.
Quando estamos em determinada circunstância, ou situação, já enredados
por ela, envolvidos, seja pelo lado bom ou ruim, ou nem por um ou outro, apenas
pelos caminhos que nos levaram até lá, é muito doloroso abandoná-la. Somos
completamente incapazes de pensar com clareza no que é melhor para nós,
principalmente se este melhor, for ir embora.
As mãos não soltam, o coração não aceita, os pulmões não respiram. Temos
a impressão de que nossa vida depende disso. Então, não conseguimos ir embora.
Continuamos ali, respirando o ar viciado, apertando as mãos fortemente, nos
dizendo que escolhemos aquilo e que devemos permanecer.
Ir embora implica em tanto, que preferimos não pensar. Implica em nos
reinventarmos, em conhecer outros horizontes e outras complicações, em
arriscar-se em uma escuridão que atribuímos ao desconhecido. Implica em ir até
lugares internos que nunca visitamos. Ficamos com o conhecido e confortável de
nós mesmos.
Ir embora é abandonar a zona de conforto. É, também, deixar o outro ir,
seja algo ou alguém. É mudar de mundo, é encontrar outro mundo.
Por isso, é admirável quando alguém se vai. Desfaz o apego, põe os medos
em xeque, arrisca um rumo que não conhece, e, na bagagem, uma colorida e
desconhecida nova história, uma paleta de possibilidades, um mundo estranho, de
língua estrangeira - estrangeira para aquele que não conhece outra língua, a
não ser a do apego.
Falar outra língua é como se reprogramar (e estou falando da língua do
coração), é acreditar que ir embora pode ser uma grande e inacreditável
façanha, que trará a liberdade e a conquista que, somente indo embora, teríamos
a possibilidade de experimentar. Ficando, jamais poderíamos conhecê-la.
Escolhemos não ir embora, ou ir. A maioria de nós escolhe ficar, porque
é o que se espera. Porque pessoas sensatas não vão embora do que demoraram
tanto para construir (relacionamento ou qualquer outra coisa). E isso as
acorrenta. Ninguém é obrigado a nada, mas obriga-se. Infelizmente, ainda há
muito que evoluir nesse conceito. Quem escolhe ir, é o diferente e excêntrico,
talvez até, egoísta, para muitos. Porém, quem tem visão, enxergará um espírito
livre e desprendido, que já se deu o suficiente, que já fez o suficiente, já
esteve ali por tempo demais. Naturalmente, seu desejo é conhecer fronteiras
inéditas. E assim, o faz. Não é nada fácil, exige maturidade e muita segurança
em seu propósito para combater as forças que lhe dizem para ficar.
Quer ir embora de algo ou alguém? Então, comece. Prepare-se
psicologicamente, e comece a empacotar. Doloroso e angustiante? Claro, mas
somente encerrando ciclos é que poderemos iniciar outros, e criar novos enredos
e relações que nos tornarão pessoas mais completas, almas mais sábias, e,
seguramente, desbravadores de nós mesmos.