Para mim, os 40 anos representam a idade da águia. Renovar-se
dolorosamente pode trazer uma emoção transformadora, de libertação espiritual
sem precedentes. Por isso, esse animal belíssimo e inspirador pode ser uma
metáfora mais que apropriada para ilustrar este momento na vida da mulher.
Perder o seu bico, unhas e trocar as penas, para alçar um voo único e de
renascimento total.
Quantas vezes já não destruímos nossos bicos ao dizer coisas que não
queríamos, cometendo erros crassos, ou, ainda pior, destruímos nossa força de
comunicação não dizendo, apenas aceitando a palavra que nos foi dita, a
atitude do outro e a expressão do mundo ao nosso redor? Inúmeras vezes nossas unhas
também nos foram arrancadas pela vida, e tivemos que inventar outros meios de
agarrarmos o que quer que fosse, felicidade, respeito, equilíbrio, sabedoria,
amizade. E quantas penas não arrancamos de nós mesmas como ervas daninhas,
erradicando do peito emoções maléficas, sentimentos angustiantes ou repressores;
rancores, amores, dores. Todas nós já nos transformamos, e não apenas uma vez. Ainda
assim, nesta idade, nesta época em que o espírito está maduro, pronto e
absolutamente jovem (sim, como não?) para alçar um novo voo, estonteante e
arrebatador, após toda a dor e experiência que vivenciou, o instinto é mais
forte do que qualquer outro. Nunca haverá novamente o mesmo desejo
incontrolável de voar com um novo eu: bico, unhas e penas completamente
renovados, coração e alma plenos de uma insaciável coragem e bravura de viver
novamente, ainda e sempre. Se você chegou aos 40, parabéns, sua transformação
já começou.
O outro lado da águia,
depois da transformação
A mulher de 40 é aquela que já não aceita mais ir além de seus limites.
Ao mesmo tempo, ela os expande, se lhe seduzirem propriamente. Se derem uma
amostra de que podem valer a pena. Já aqueles limites necessários para o seu
bem-estar, que antes ela considerava desrespeitar, não o faz mais. Não, ela não
tem mais essa elasticidade... ela tem a elasticidade do viver bem. De se
respeitar, doe a quem doer, de fazer as coisas que lhe trazem bem. Porque ela carrega
as cicatrizes dos limites ultrapassados, das decepções engavetadas, dos
sorrisos falsos de amizades
quebradas, e dos amores amargos com gosto de partida.
Essa mulher é como um café forte, encorpado: tem um gosto inigualável,
que pode viciar. Tanto o seu sabor quanto a sua textura estão no ponto certo,
deixam um rastro gostoso na boca, e, assim como a deliciosa bebida, quando fica
pronta, torna-se irresistível, e todos querem um pouco, invariavelmente.
Contudo, há também um lado obscuro e nunca revelado, sobre quantos
esqueletos uma mulher madura pode guardar no armário. Uma de 40 tem esqueletos
dos vinte e dos trinta. Especialmente dos 30, pois, quanto mais jovem somos,
menos guardamos coisas, menos acumulamos mágoas, sofrimentos ou tralhas... Com
o passar do tempo, nossos armários ficam cheios, se não prestarmos atenção. Os
esqueletos nos assombram. Então, chegam os 40 e retrocedemos: queremos os vinte
de volta e desejamos ardentemente tirar os esqueletos do armário. Ansiamos por
novidades que tragam, literalmente, boas novas. Nada de mimar tristezas que já
se foram, dar a mão ao que nos deprimia, tomar como nossas as dores e lamúrias
de outros (ainda que queridos), ou de se corroer com pequenas coisas. Nada de elaborar
neuras, de querer de volta quem já se foi (vivo ou morto), de reclamar do
passado, do porquê e como foi daquele jeito, e tampouco, de ser menos feliz.
Não temos tempo, precisamos ser felizes aos 40. Agora, seja com
estrias, celulites, algumas rugas, talvez certos tratamentos de saúde e uma considerável
bagagem de momentos vividos, bons e ruins. Mas... com a vitalidade e frescor da
adolescência, acrescidos da garra de uma loba conquistadora que deseja e irá realizar
um milhão de desejos.
Um brinde aos 40! E um voo rasante, emocionante, de tirar o fôlego para você!
"Águia a voar": FundosAnimais.com.